quarta-feira, 27 de outubro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Algum tempo atrás, li um livro que comparava a vida com uma viagem de comboio.
Uma leitura extremamente interessante, quando é bem interpretada…
A vida não é mais do que uma viagem de comboio:
Repleto de embarques e desembarques, salpicado por acidentes, surpresas agradáveis em algumas estações e profundas tristezas noutras.
Ao nascer, subimos para o comboio e encontramo-nos com algumas pessoas que acreditamos que estarão sempre connosco nesta viagem: os nossos PAIS.
Lamentavelmente, a verdade é outra.
Eles sairão em alguma estação, deixando-nos órfãos do seu carinho, amizade e da sua companhia insubstituível.
Apesar disto, nada impede que entrem outras pessoas que serão muito especiais para nós.
Chegam os nossos irmãos, amigos e esses maravilhosos amores.
De entre as pessoas que apanham este comboio, também haverá quem o faça como um simples passeio.
Outros, só encontrarão tristeza nessa viagem…
E outros também, que circulando pelo comboio, estarão sempre prontos para ajudar quem precisa.
Muitos, quando descem do comboio, deixam uma permanente saudade…
Outros passam tão despercebidos que nem reparamos que desocuparam o lugar.
Às vezes, é curioso constatar que alguns passageiros, que nos são muito queridos, se instalam noutras carruagens, diferentes da nossa.
Assim, temos de fazer o trajecto separados deles.
Mas, nada nos impede que, durante a viagem, percorramos a nossa carruagem com alguma dificuldade e cheguemos até eles…
Mas, lamentavelmente, já não nos poderemos sentar ao seu lado, pois estará outra pessoa a ocupar o lugar.
Não importa. A viagem faz-se deste modo: cheio de desafios, sonhos, fantasias, esperas e despedidas… mas nunca de retornos.
Então, façamos esta viagem da melhor maneira possível…
Tratemos de nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando em cada um, o melhor deles.
Recordemos sempre que em algum ponto do trajecto, eles poderão hesitar ou vacilar e, provavelmente, vamos precisar de os entender…
Como nós também vacilamos muitas vezes, sempre haverá alguém que nos compreenda.
No fim, o grande mistério é que nunca saberemos em que estação vamos sair, nem, muito menos, onde sairão os nossos companheiros, nem sequer, aquele que está sentado ao nosso lado.
Fico a pensar se, quando sair do comboio, sentirei nostalgia…
Acredito que sim.
Separar-me de alguns amigos com quem fiz a viagem, será doloroso.
Deixar que os meus filhos sigam sozinhos, será muito triste.
Mas agarro-me à esperança que, em algum momento, chegarei à estação principal e terei a grande emoção de vê-los chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram.
O que me fará feliz, será pensar que colaborei para que a sua bagagem crescesse e se tornasse valiosa.
Meu amigo, façamos com que a nossa estadia neste comboio seja tranquila e que tenha valido a pena.
Esforcemo-nos para que, quando chegue o momento de desembarcar, o nosso lugar vazio deixe saudades e umas lindas recordações para todos os que continuam a viagem.
Para ti, que és parte do meu comboio, desejo-te uma…
… Viagem Feliz…

terça-feira, 19 de outubro de 2010

À PROCURA DA PALAVRA

P. Vítor Gonçalves

DOMINGO XXIX Ano C

“Quando voltar o Filho do homem

encontrará fé sobre esta terra?” ”

Lc 18, 8

A fé subterrânea

A feliz epopeia do resgate dos mineiros chilenos uniu-nos numa audiência mundial só comparável ao drama do 11 de Setembro, em Nova Iorque, há 9 anos. Hora a hora a terra ia trazendo à luz do dia, com o simbolismo de uma ressurreição (Fénix, a ave mitológica que renascia das cinzas, era o nome da cápsula salvadora) cada um dos 33 mineiros e os salvadores que tinham descido para ajudar. Nas camisolas de todos um agradecimento: “Gracias, Señor!” Não sei se Jesus encontrará, um dia, fé “sobre” esta terra, mas debaixo dela, certamente.

Não sabemos que justiça pedia a viúva do evangelho de hoje. Na tradição bíblica as viúvas são o símbolo de todos os desfavorecidos e abandonados. Ninguém as defende, não há reformas nem seguranças sociais que as apoiem. É porta-voz dos injustiçados do mundo, de quem não tem vez nem voz, mas encarna a perseverança ou o desespero de não desistir de gritar. Em vários momentos Jesus aponta a força da perseverança: o amigo inoportuno a pedir pão, a mulher siro-fenícia que pede a cura da filha, o cego de Jericó que grita por um milagre. Baseado na experiência da natureza o povo diz na sua sabedoria: “Água mole em pedra dura…tanto dá até que fura”! De tanto desejar milagres esquecemos que a maioria deles dão muito trabalho, precisam de muita insistência!

A oração será também uma luta? Como a de Jacob junto à torrente de Jaboc até ao romper da aurora (Gn 32,25)? É luta contra a auto-suficiência que nos isola, e contra a história que nos oprime, porque a vontade de Deus é comunhão e justiça. Quando rezamos lutamos por um sonho, por uma vida mais abundante, por um reino que ainda não está realizado. Dessa luta falava o segundo mineiro a “ressuscitar” da terra: “Estava com Deus e com o Diabo. Eles lutaram por mim e Deus ganhou. Nunca pensei, nem um minuto, que Deus não me tirasse dali. Eu acredito que Deus testa as pessoas e acredito que temos de confrontar coisas na vida como as que nós tivemos que defrontar lá em baixo.” Uma luta que nos aponta as muitas que temos de travar neste “buraco de crise” em que estamos, não é?

A oração é, verdadeiramente, “um problema político”, como dizia o teólogo Yves Congar. Porque nos obriga a deixarmos de olhar para o próprio umbigo e a construir com Deus um mundo mais justo para todos. Porque é um grito contra a injusta distribuição das riquezas do mundo e o escândalo dos excessos. Porque nos mostra tão dependentes uns dos outros e desmascara a desumanidade de quem se julga acima de todos. A oração sintoniza-nos com o projecto de felicidade que Deus quer fazer connosco! E nunca sem nós!

domingo, 10 de outubro de 2010

EXPOSIÇÃO A NÃO PERDER!

Na Trienal de Arquitectura de Lisboa.

Mais em http://www.appletonsquare.pt/ e
em http://www.trienaldelisboa.com/

A igreja de Santa Isabel, na freguesia [de Santa Isabel ] em Lisboa, é como uma pedra preciosa guardada dentro de uma caixa escura com uma sombria tampa cinzenta. A luz que entra pelas janelas é largamente absorvida pelo tecto preto-mate, o que visualmente torna o espaço muito pesado, impedindo-o de respirar e desenvolver visualmente o volume desejado.
De facto, a primeira impressão que o visitante tem é um pouco deprimente – sem dúvida o oposto do que era e é pretendido: tudo no espaço foi concebido para provocar um sentimento de elevação: fiel às regras de Alberti, os elementos arquitectónicos da base são visualmente mais pesados e escuros do que os do topo, onde estão situadas as janelas, e a proximidade destas à abóbada, juntamente com o ângulo dos painéis reflectores directamente sob essas janelas, não deixa dúvida que o tecto era suposto ser a continuação do movimento para a luz, numa tonalidade suave que reflectisse e distribuísse uniformemente a luz no espaço inferior.
O meu objectivo seria o de completar a intenção original do projecto arquitectural, substituindo o sufocante manto cinzento por um céu aberto. O espaço tornar-se-á muito mais acolhedor e forte e será mais apelativo à meditação. Em vez da presente cobertura sombria e fria, terá uma jubilante abertura para um céu cósmico.

Michael Biberstein, 2010