quarta-feira, 16 de julho de 2014
Corpo de Cristo
"Amei-te,
como se ama um farrapo
desses que há muito perdemos./
Farrapo quer dizer coisa, não aquilo que esquecemos:
um brinquedo de criança,
um corpo, o teu corpo, o meu,
esse que neles modelava
a preencher um vazio./
Amei-te.
Senti compaixão de ti,
do teu corpo de menino;
do mísero adolescente,
tão demente, oh tão prudente!, incapaz de um desatino;/
do homem já tão farrapo
que servia de remendo
aos joelhos do destino./
Amei-te,
corpo em Deus transfigurado,
transformado
num farrapo./
(...)
Amei-te,
quando gritei ao teu céu:
devolve-me as minhas mágoas./
Eu de Deus não quero nada
que não seja igual a ti;
que não seja igual a mim./
Amei-te,
porque eras maior do que eu;
porque eras o meu destino:
remendo, trapo, farrapo, natureza, minhas mágoas,
homem farrapo divino."
Ruy Cinnati
domingo, 8 de junho de 2014
sexta-feira, 6 de junho de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
GAAFs... em Abril!
Obrigada ao Camarada José Pacheco Pereira por nos recordar onde é que nós estávamos no 25 de abril ;-)
segunda-feira, 14 de abril de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Millennials leaving religion over anti-gay teachings
«(In America)...In 2003, all major religious groups opposed same-sex marriage, with the exception of the religiously unaffiliated. Today, there are major religious groups on both sides of the issue. Religiously unaffiliated Americans (73%), white mainline Protestants (62%), white Catholics (58%), and Hispanic Catholics (56%) all favor allowing gay and lesbian couples to marry. A majority (83%) of Jewish Americans also favor legalizing same-sex marriage. Hispanic Protestants are divided; 46% favor allowing gay and lesbian couples to legally marry and 49% oppose. By contrast, nearly 7-in-10 (69%) white evangelical Protestants and nearly 6-in-10 (59%) black Protestants oppose same-sex marriage. Only 27% of white evangelical Protestants and 35% of black Protestants support same-sex marriage...»
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Estados de Espírito
Aqui fica um texto magnífico de José Tolentino Mendonça sobre a inquietude da vida.A partir do que diz Maria Gabriel Llansol, a procura incessante de sentido para o nosso interior, é, de facto, um dom:
«Creio que o que de mais importante podemos testemunhar e despertar na vida uns dos outros é aquilo que a escritora Maria Gabriela Llansol chama, na sua linguagem inesquecível, «a luta quotidiana pelo fulgor». O fulgor não é uma evanescência, nem resulta de um qualquer errático acaso.
É um combate, o fulgor. É um esforço de todos os dias esta procura de luz, de intensidade, este desejo de uma cintilação na paisagem baça e opaca que, tantas vezes, parece ser a única que nos resta. O fulgor abre-nos a uma compreensão maior do próprio tempo. Liga-nos ao que está mais adiante ou mais fundo. Rompe brechas. Faz-nos teimosamente repetir: “não pode ser só isto”.
Encontrei-me com Maria Gabriela Llansol diversas vezes, e recordo de modo particular duas situações. Não sei se as torna especialmente indeléveis o facto de terem constituído a primeira e a última das nossas conversas. Talvez seja também isso. Ambos os momentos ocorreram em Sintra. No primeiro, ela estava à minha espera na estação, à chegada do comboio, e demos um demorado passeio pelo parque da Vila.
Lembro-me que à queima-roupa ela me perguntou: «Tolentino, o que procuras?». Não esperava por aquela pergunta, fiquei calado e confundido, e respondi-lhe qualquer coisa de que me esqueci. Mas a sua pergunta ficou-me.
A luta quotidiana pelo fulgor faz-se de exercícios assim.
É verdade que são exigentes e que não estamos preparados para eles. Mas se cada um de nós não afronta, com clareza, os quês e os porquês que silenciosamente persegue, o fulgor daquilo que vivemos diminui, fica como que comprometido. No nosso último encontro, a Maria Gabriela já estava muito doente. Ela havia manifestado a amigos comuns o desejo de estar comigo e apressei-me a realizá-lo. Tinha uma dificuldade grande em falar, mas essa dificuldade era também uma misteriosa e humaníssima forma de linguagem. Acho que nos entendemos muito bem. No final, ela pediu que tomássemos um chá. E assim fizemos, nas chávenas mais belas do seu armário, sorvendo com aquele chá uma coisa que eu e gerações de leitores aprendem com ela: a luta quotidiana e extrema pelo fulgor. Umas semanas depois da sua morte, recebi um pacote proveniente da sua morada, que me deixou numa comoção que vão certamente compreender: num papel de seda azul, muito delicado, vinham embrulhadas as chávenas que celebraram o nosso último encontro.
Este ano morreu-me outro querido amigo, o Frei José Augusto Mourão. Com uma generosidade que muito me tocou, os Padres Dominicanos decidiram incluir-me na condivisão simbólica da herança do José Augusto.
Dessa herança afetiva que me foi atribuída, fazia parte uma carta que Maria Gabriela Llansol lhe havia endereçado. E dizia assim: «Talvez que solidão e companhia se avistem do mesmo lugar. Creio que o conhecimento nasce de uma espécie de passagem rápida de uma pela outra. “Olá”, diz a companhia. “Olá”, diz a solidão, e ambas desaparecem nessa tensão de querer ser e saber».
Falta só dizer que o fulgor é uma luta sem deixar, como se vê, de ser um dom.»
Tolentino Mendonça, agosto de 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)