quarta-feira, 16 de julho de 2014
Corpo de Cristo
"Amei-te,
como se ama um farrapo
desses que há muito perdemos./
Farrapo quer dizer coisa, não aquilo que esquecemos:
um brinquedo de criança,
um corpo, o teu corpo, o meu,
esse que neles modelava
a preencher um vazio./
Amei-te.
Senti compaixão de ti,
do teu corpo de menino;
do mísero adolescente,
tão demente, oh tão prudente!, incapaz de um desatino;/
do homem já tão farrapo
que servia de remendo
aos joelhos do destino./
Amei-te,
corpo em Deus transfigurado,
transformado
num farrapo./
(...)
Amei-te,
quando gritei ao teu céu:
devolve-me as minhas mágoas./
Eu de Deus não quero nada
que não seja igual a ti;
que não seja igual a mim./
Amei-te,
porque eras maior do que eu;
porque eras o meu destino:
remendo, trapo, farrapo, natureza, minhas mágoas,
homem farrapo divino."
Ruy Cinnati
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