segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Cair em extremos

«E depois afirmas:«Por vezes, dizem-me que a vida possui tensão suficiente para impedir que se caia em extremos.O que pensas disto?»Sabes, Netty, acredito que quanto menos o ser humano cai em extremos, maiores e mais frutuosas são as suas tensões.Pelo menos foi o que aprendi em relação ao meu próprio corpo e alma.Quanto maior a minha tendência para cair em extremos, quanto mais cresce em mim a inquietação, mais atentamente me sento à boleia do autocontrolo, segurando com firmeza as rédeas, sem as largar, e assim, vou ganhando novas forças que me dão a possibilidade crescer mais produtiva.E não é isso o mais importante?...Não devemos só puxar firmemente, de vez em quando, as rédeas da nossa inquietação, para que esta não desate a empinar como um cavalo desenfreado, dando início a uma jornada devastadora por todo o ser, devemos também refrear a nossa tristeza , de contrário, ela avança como uma enxurrada, inundando os campos cultivados com tanto esforço.Devemos aspirar deixar de ser tão egocêntricos, deixar cada disposição seguir o seu caminho dentro de nós, sem interferir.Não temos de esconder a nossa inquietação e tristeza de nós próprios, devemos carregá-las e suportá-las, mas não entregar-nos completamente a elas, como se nada existisse no mundo...»
Etty Hillesum,Cartas, 1941-1943

Sem comentários: